12 Agosto 2020
Estamos chegando rapidamente ao ponto em que o atraso contínuo se torna inexplicável.
Publicamos aqui o editorial do jornal National Catholic Reporter, 11-08-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Enquanto publicamos este texto, já se passaram um ano, 10 meses e seis dias desde que o Papa Francisco encomendou um relatório sobre a documentação do Vaticano sobre como Theodore McCarrick foi promovido nos cargos da hierarquia católica durante décadas, apesar de múltiplas e à época secretas denúncias da sua má conduta sexual com seminaristas.
E já se passaram seis meses e seis dias desde a última vez que uma autoridade vaticana ofereceu uma atualização pública sobre a situação do relatório, quando o secretário de Estado, o cardeal Pietro Parolin, disse à agência de notícias Reuters que o trabalho sobre o texto estava concluído, aguardando apenas uma ordem final de Francisco para a publicação.
Certamente, o mundo mudou de forma drástica desde que o pontífice ordenou o relatório pela primeira vez, no dia 6 de outubro de 2018, e até mesmo desde que Parolin ofereceu essa última atualização, no dia 6 de fevereiro.
De março a meados de maio, o Vaticano foi efetivamente fechado pelo estrito confinamento do coronavírus na Itália, o que pode ter impedido qualquer revisão final necessária dos documentos de arquivo. Dada a resposta diversificada ao coronavírus nos Estados Unidos, seria difícil conseguir qualquer entrevista necessária com os feridos por McCarrick.
E Francisco pode ter se perguntado sensatamente sobre a pertinência de divulgar um texto que deverá reabrir uma infinidade de velhas feridas para os sobreviventes dos abusos sexuais, enquanto os estadunidenses, assim como outros em todo o mundo, enfrentam um tempo sem precedentes de morte, sofrimento e perdas.
Mas estamos chegando rapidamente ao ponto em que o atraso contínuo se torna inexplicável.
McCarrick foi um dos bispos católicos mais importantes da sua época, um influente conselheiro de presidentes e papas. E, nesse tempo todo – enquanto o Papa João Paulo II o fez bispo de Metuchen, Nova Jersey, em 1981, arcebispo de Newark, Nova Jersey, em 1986, arcebispo de Washington no ano 2000, e cardeal em 2001 –, McCarrick estava abusando de homens jovens.
A suspensão inicial de McCarrick do ministério em junho de 2018 se deveu a uma denúncia – mais tarde considerada como “confiável e substancial” pela Arquidiocese de Nova York – de que ele havia abusado sexualmente de um coroinha de 16 anos em 1971.
E agora sabemos que pelo menos dois ex-seminaristas denunciaram McCarrick aos bispos locais ainda na década de 1990. A Arquidiocese de Newark e as dioceses de Metuchen e Trenton, Nova Jersey, fizeram um acordo secreto com um homem em 2005, e a Diocese de Metuchen estabeleceu um acordo secreto com o outro homem em 2007.
Mesmo em meio aos anais dos abusos sexuais cometidos por clérigos católicos nos EUA, que estão tristemente repletos de personagens desprezíveis e repulsivos, McCarrick lança uma sombra desprezível.
Se há motivos legítimos para atrasar a divulgação do relatório sobre como esse homem foi capaz de ganhar promoções repetidamente, o Vaticano deveria dizê-los. Quanto mais o tempo passa, mais fácil é para os ideólogos de direita da Igreja fazerem acusações injustificadas de um acobertamento por parte de Francisco, que, como arcebispo de Buenos Aires, Argentina, simplesmente não desempenhou nenhum papel na carreira de McCarrick.
O povo de Deus merece uma prestação de contas completa. Abram o jogo.
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“Já passou da hora de o Vaticano se pronunciar sobre a vergonhosa ascensão de McCarrick” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU